domingo, 28 de agosto de 2011

Conto de um Desempregado

Não era a primeira vez e nem a ultima que caçava meus documentos naquela flamigerada pasta azul. Pelo menos não era um dia de marasmo de mandar e-mail e torcendo para que alguma alma entediada de RH se desse o trabalho de me ligar. Até que ligam, e o mais impressionante é quando nunca estou com a melhor voz. Afinal, já troquei o dia pela noite já faz algum tempo.

Pra esse, eu estava deprimido já a dois dias na cama, estava com uma voz horrível, aquela cheia de saliva que mal conseguimos me entender. Admito que se não estivesse tão desesperado seria bem engraçada a cena. Estava com a cabeça tão cheia que só peguei as informações principais, endereço e a hora que eu tenho que estar lá. Cargo? Já se passaram quatro meses desde que fui demitido, não tenho mais esse direito de escolha.

Uma euforia toma conta de mim, a volta ao mercado de trabalho. Até que eu lembro das outras entrevistas, de empregos melhores e que eu queria mesmo. Como eu odeio as porcarias das entrevistas e que me faz pagar cada mico que eu mesmo nem acredito. Prefiro muito mais quando a pessoa do RH conversa comigo na mesma hora.

Nunca fiz terapia, mas preferia uma psicóloga ou mesmo um detector de mentiras do que aquelas malditas provas de redação. Principalmente a maldita redação de quem sou eu. Como eu sinceramente as odeio. Um dia eu vou fazer uma redação padrão e apenas copiar. E o grande gênio que me manda desenhar uma arvore e uma casa. Entre nós, mal sei desenhar boneco de parede, o que dirá uma arvore.

Pelo menos, até agora... Não tive que fazer aquela sessão de terapia com um monte de gente que eu queria matar pela vaga para dizer que é meu amigo. Avalistas de RH tem um senso doentio de interração e descobrir como interagimos com outras pessoas.

Tento tomar um café, até que me vem a cara da ultima avalista me vem a cabeça e até mesmo o minha bebida amarga. De um instante, que ela parece uma pessoa gentil e meiga, ela se torna uma megera tão assustadora que me lembra meu sargento do exercito no dia em que deixei minha cama bagunçada. A mulher ia do gentil ao abissal em 100 km/h em 3 segundos.

Uma coisa que eu acho graça, é falar de você na frente de todos os seus concorrentes. Não faz sentido isso, falar o que você é e tudo que pode ser copiado para seus concorrentes que não se apresentaram ainda. Pra cargos que exigem comunicação eu até entendo, mas para que um estoquista ou mesmo um auxiliar de serviços gerais precisa saber se comunicar tão bem para mais de dez pessoas? Só em pensar nisso, me deixa agoniado.

E a maldita roupa que tenho que escolher e o jeito de colocar? Camisa social ou camisa polo? Camisa para dentro ou para fora? Tênis ou sapato? Afinal, não quero vou ser caixa de banco, mas sim...
Sei lá o que vou ser, mas não gosto de parecer o pastor da igreja da minha mãe. E pra que tudo isso? Pra ser um estoquista de um mercado de esquina? Minha cabeça realmente doi, isso no que dá querer resolver morar sozinho e pagar as próprias contas...
Mas ou era isso ou aturar aquela louca que me colocou no mundo. Parando para pensar, estou bem assim mesmo...

Foda-se o que eu penso... Tenho mesmo que pagar essas malditas contas, que o dinheiro da recissão se foi pagando as contas anteriores. E vamos a mais uma...


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