terça-feira, 30 de agosto de 2011

Caminhando & Cantando #01 - Jay Vaquer - Cotidiano de um Casal Feliz





Cotidiano de um Casal Feliz - Jay Vaquer


Alguém sabe dizer o que é normal?
Pode parecer tão natural(2x)


Realmente, o normal de hoje é muito estranho para mim. Não falo nem da juventude, que toda ela não importa a época que acabar tentando transgredir da pior maneira possível. Mas sim, no caso do Rio de Janeiro que algumas coisas já estamos anestesiados. Violência, precarieadade, frieza...


Ele manda em tudo, em todos
curte seu poder
E deixa a esposa em casa
pra brincar no treco
de qualquer traveco
em troca de prazer
vai saber porque...ieiê


Talvez saibamos sim, sempre todo mundo é uma coisa e parece outra. Algumas vezes só para manter as aparecias e fazemos o que gostamos de maneira solitária. Que pode ser bem ou mal vista pelos olhos de quem vê. O mal é quando deixamos de lado alguém para pensar em apenas nossas próprias necessidades.


E a esposa anda malhada
fez lipoescultura
e a falta de cultura
nunca foi problema
ela tem dinheiro
pra dar e vender
lê Paulo Coelho e seicho-no-ie
vai saber porque...iê


O pior que termos algo a esconder é quando ainda temos algo para descobrir sobre nós mesmos e nos achamos vazios. Sempre achamos que podermos melhorar, mas para quê, afinal de contas e ainda continuamos perdidos. Em vez buscamos nossas próprias soluções para nossos problemas, procuramos em respostas prontas em diversos lugares onde simplesmente são tão coisas tão genéricas que não encaixam perfeitamente em você.


E eles têm escravos
disfarçados de assalariados
diariamente humilhados
se levantam cedo, se arrumam apressados
têm hora marcada pra falar com Deus


E quem não a pessoa que exploramos a exaustão e simplesmente damos um singelo tapinha nas costas? E ainda temos uma pequena culpa na consciência e abafamos-as com orações forçadas com uma devoção falsa que se recebemos qualquer pedido sério desse tipo apenas ignorariamos.


Alguém sabe dizer o que é normal? 
Pode parecer tão natural (2x)


E mesmo com esses atos que vemos o casal aprontando, quem somos nós para julgarmos? Nós tendo ou não os mesmo problemas, que direito temos o de julgar?


Ele guarda no HD
fotos de crianças nuas, pra tirar um lazer
Curte ver aquilo quando fica só
Ela conta os passos que dá no trajeto
entre a terapia e a boca do pó


E ambos ainda continuam com suas depravações para ou diversão ou mesmo sua redenção pra zerar o coeficiente de culpa para voltar a fazer o que acha tão errado. Cada um tratando seus "problemas" da maneira que sabem, seja com solidão ou mesmo com martirio mental.


E até pensa em adotar alguma criatura,
pode ser uma criança ou um labrador
Só depende da raça, depende é da cor
que pintar primeiro..


E que maneira melhor de se livrar da culpa do que tentar acertar e ganhar seus pontos do céu ou de consciência, cuidando de uma outra vida.Já que ela estragou a própria porquê não tentar acertar com outra? Mas seja a vida ou racial, não importa de quem ela vai cuidar, basta apenas saber como ela conseguirá apagar a culpa de tudo que ela faz com ela mesma.


Ele faz como ninguém a cara de quem não sabe mentir
pode admitir, pra ocupar o vazio da relação
mas com uma condição:
não quer dar banho,
nem limpar merda o dia inteiro


Ele sabe que tem que cuidar da sua relação, e porque não deixar o capricho da mulher? E mesmo desagradado, ele deixa bem claro que a responsabilidade seria dela, e que não se importa, mesmo se for uma vida humana ou animal.


Eles foram ver o show da Diana Krall
que alguém falou que era genial
gritaram "uhuu" do camarote
enchendo a cara de Scotch


E porque não voltar a uma convivência agradável indo ao um show disputadíssimo? O grande problema que era numa grande solidão a dois, com um jazz tranquilo misturado a embriaguez de um scott. Como se relacionar com alguém que está fora de si, quando você também está?


E eles têm escravos
disfarçados de assalariados
diariamente humilhados
se levantam cedo, se arrumam apressados
têm hora marcada pra falar com Deeeeeeuss!


E voltamos a rotina do "tudo de novo de novo", culpa, desejos obscuros, tristezas, redenções, hipocrisia... 


Alguém sabe dizer o que é normal?
Pode parecer tão natural (2x)


O pior que se eu ver é história na tv, vou achar que é uma coisa natural. Posso ainda chegar a dizer que hoje em dia isso é até normal. E quem não vai dizer?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Eu enxergo cinza

- É verdade que você é Daltonico?


- Sim.


- Sério mesmo?


- Porque?


- Sei lá... é estranho encontrar alguém com seu... er... problema.


- Até que é bom ser daltônico.


- Como assim?


- Pense naquela memoria antiga que é preto-e-branco boa, que você sente saudade. É uma nostalgia que você quer que volte?


- Sim.


- Nós somos nostálgicos do presente, nossa saudade é do tempo que está passando e que sempre chega. Não ficamos preso no cinza do passado, mas sim no cinza do presente, onde tudo acontece.


- Isso porque você não sabe a graça de ver as cores.


- Por causa delas que a raça humana se acha diferente dela mesmo, por uma cultura diferente e por uma cor de pele se acham plenos e únicos, mal sabem que todos na verdade são cinza.


- Você acha que tudo só se resume ao cinza, ao preto e branco. Há mais no mundo, como o azul do céu do mar, o verde das plantas, o vermelho do sangue.


- O mundo é feito da mesma coisa: Atomos. Então porque tudo não pode ter uma única cor. Se você visse o mundo cinza que eu vejo, veria que não há diferença entre um cão e um ser humano e uma parede. Somos matérias com finalidade e objetos completos em nossas nuances. Não adianta querer ver seu mundo colorido pelo seus olhos verde.


- Como você sabe que meus olhos são verdes? Você não era daltônico?


- Só filosoficamente, mas nada que vá mudar o mundo de cor, muda apenas como eu vejo as coisas.

domingo, 28 de agosto de 2011

Conto de um Desempregado

Não era a primeira vez e nem a ultima que caçava meus documentos naquela flamigerada pasta azul. Pelo menos não era um dia de marasmo de mandar e-mail e torcendo para que alguma alma entediada de RH se desse o trabalho de me ligar. Até que ligam, e o mais impressionante é quando nunca estou com a melhor voz. Afinal, já troquei o dia pela noite já faz algum tempo.

Pra esse, eu estava deprimido já a dois dias na cama, estava com uma voz horrível, aquela cheia de saliva que mal conseguimos me entender. Admito que se não estivesse tão desesperado seria bem engraçada a cena. Estava com a cabeça tão cheia que só peguei as informações principais, endereço e a hora que eu tenho que estar lá. Cargo? Já se passaram quatro meses desde que fui demitido, não tenho mais esse direito de escolha.

Uma euforia toma conta de mim, a volta ao mercado de trabalho. Até que eu lembro das outras entrevistas, de empregos melhores e que eu queria mesmo. Como eu odeio as porcarias das entrevistas e que me faz pagar cada mico que eu mesmo nem acredito. Prefiro muito mais quando a pessoa do RH conversa comigo na mesma hora.

Nunca fiz terapia, mas preferia uma psicóloga ou mesmo um detector de mentiras do que aquelas malditas provas de redação. Principalmente a maldita redação de quem sou eu. Como eu sinceramente as odeio. Um dia eu vou fazer uma redação padrão e apenas copiar. E o grande gênio que me manda desenhar uma arvore e uma casa. Entre nós, mal sei desenhar boneco de parede, o que dirá uma arvore.

Pelo menos, até agora... Não tive que fazer aquela sessão de terapia com um monte de gente que eu queria matar pela vaga para dizer que é meu amigo. Avalistas de RH tem um senso doentio de interração e descobrir como interagimos com outras pessoas.

Tento tomar um café, até que me vem a cara da ultima avalista me vem a cabeça e até mesmo o minha bebida amarga. De um instante, que ela parece uma pessoa gentil e meiga, ela se torna uma megera tão assustadora que me lembra meu sargento do exercito no dia em que deixei minha cama bagunçada. A mulher ia do gentil ao abissal em 100 km/h em 3 segundos.

Uma coisa que eu acho graça, é falar de você na frente de todos os seus concorrentes. Não faz sentido isso, falar o que você é e tudo que pode ser copiado para seus concorrentes que não se apresentaram ainda. Pra cargos que exigem comunicação eu até entendo, mas para que um estoquista ou mesmo um auxiliar de serviços gerais precisa saber se comunicar tão bem para mais de dez pessoas? Só em pensar nisso, me deixa agoniado.

E a maldita roupa que tenho que escolher e o jeito de colocar? Camisa social ou camisa polo? Camisa para dentro ou para fora? Tênis ou sapato? Afinal, não quero vou ser caixa de banco, mas sim...
Sei lá o que vou ser, mas não gosto de parecer o pastor da igreja da minha mãe. E pra que tudo isso? Pra ser um estoquista de um mercado de esquina? Minha cabeça realmente doi, isso no que dá querer resolver morar sozinho e pagar as próprias contas...
Mas ou era isso ou aturar aquela louca que me colocou no mundo. Parando para pensar, estou bem assim mesmo...

Foda-se o que eu penso... Tenho mesmo que pagar essas malditas contas, que o dinheiro da recissão se foi pagando as contas anteriores. E vamos a mais uma...